O mestre minimalista - Ludwig Mies van der Rohe

Vida

        Ludwig Mies van der Rohe nasceu em Aachen, na Alemanha, em 27 de março de 1886. Trabalhou durante a adolescência com o pai, na construção civil e por volta de 1908, mudou-se para Berlin onde ingressou em escritórios de arquitetura como os de Bruno Paul e Peter Behrens.

    Iniciou sua carreira construindo casas populares em estilos medievais tradicionais alemães, mas depois de servir no corpo de engenharia durante a primeira guerra mundial, volta a pátria obstinado em se tornar um arquiteto famoso.

        Entra em contato com novas tendências, como o construtivismo russo, entre outros, e transforma seu estilo. Mas, apesar disso, ainda no início dos anos 20, percebe que tem muitos projetos elogiados, porém poucas construções erguidas, decide então se adaptar à realidade econômica alemã, passa a usar materiais tradicionais com muita técnica e precisão construtiva e passa a ser notado.

        Em 1930 impressiona o renomado arquiteto Gropius, que o convida para sua sucessão na escola Bauhaus. Mies acaba transferindo de Dessau para Berlim, mais tarde, devido a seu antagonismo pessoal com a ideologia nazistas que se interferia em tudo na Alemanha daquela época.

Uma interessante artimanha do destino atraiu Mies van der Rohe, em 1937, para os Estados Unidos., quando o arquiteto Philip Johnson o convidou para um projeto publicitário, que nunca se concretizou, mas em sua permanência por lá, acabou aceitando o convite para dirigir a Escola de Arquitetura do Instituto de Tecnologia de Illinois, em Chicago, onde desenvolveu várias obras.

        A partir daí sua trajetória de sucesso se consolida cada vez mais, tanto como professor quanto arquiteto, em uma sequência de obras que são sempre marcadas por seu estilo. Todo esse sucesso nos Estados Unidos acaba por fazer Mies se naturalizar americano.

     O estilo de Mies cria a expressão “pele de vidro”, em que esta seria o invólucro da “estrutura óssea” do edifício. Para esse tipo de projeto, abusa de esquadrias metálicas emoldurando lâminas de vidro, conseguindo belos efeitos com os reflexos criados.

      Aos 83 anos de idade, no dia 17 de agosto de 1969, Mies van der Rohe faleceu, deixando um legado que se traduziu não só em obras, mas em todo um estilo e uma verdadeira escola da arquitetura moderna em, como ele dizia: “Deus está nos detalhes”.

Obras

O pavilhão de Barcelona

        Em 1929, ao criar o Pavilhão Alemão da Exposição Internacional de Barcelona, com materias nobres, mármore travertino e pilares de aço sobre painéis de madeira, o que deveria ser temporário acaba se tornando uma de suas obras mais conhecidas. O pavilhão de Barcelona foi desmontado em 1930, mas foi reconstruído décadas mais tarde, nos anos 80.

        O Pavilhão foi utilizado oficialmente apenas uma vez e foi no dia 27 de maio de 1929, quando o rei da Espanha, Alfonso XIII, participou de uma cerimônia para a sua abertura. O seu papel, de acordo com uma declaração oficial do presidente Paul von Hindenburg, era "apresentar o espírito da nova Alemanha: simplicidade e clareza de meios e intenções, tudo é aberto, nada está oculto". Como a primeira participação oficial da Alemanha em um evento internacional desde o fim catastrófico da Primeira Guerra Mundial, foi um dia de enorme importância simbólica, com a presença de diplomatas, aristocratas e outras personalidades. 

     O Pavilhão de Barcelona tinha a intenção de incorporar esse momento. Livre de ornamento externo, a edificação foi feita com materiais luxuosos. Paredes foram formadas com placas finas de pedra semi-preciosa luminosa, de mármore polido verde para ônix dourada. Segundo o relato influente de Philip Johnson, elas não limitavam fisicamente espaço mas sim, sugeriam um movimento fluído, e não dividiam, conectavam; trazendo o interior para o exterior, continuando para além da linha da cobertura ao jardim. Enquanto as colunas forneciam uma espécie de grade cartesiana de pontos que amarravam o telhado, as paredes foram posicionadas livremente. 





Casa Tugendhat

        A Villa Tugendhat foi projetada para um rico e jovem casal judeu Grete & Fritz, de uma família da indústria têxtil de Brno. Interessados em uma habitação espaçosa com formas simples, o conceito de planta livre de Mies era perfeito para o gosto dos Tugendhats, que conheceram em Berlim em 1927, com seu projeto para a Zehlendorf House de Edward Fuchs.
        O conceito funcionalista de Mies, aparece também nesse projeto habitacional. O uso do aço cria espaços abertos e livres numa habitação composta por três níveis, com diferentes plantas, que se relacionam com a variação de inclinação do terreno. 
No subsolo, área de instalações. No térreo, as áreas sociais, como conservatório e terraço, também a cozinha e área para os empregados. O primeiro andar, no nível da rua, os quartos das crianças junto com quartos destinados às babás, e a suíte principal a na parte posterior da habitação conectada ao terraço. 
       Nas fachadas uma imagem sóbria, com a pintura toda em branco, e as grandes aberturas ortogonais. No nível da rua, na fachada de entrada, só se vê o último nível, um grande pano de vidro marca a entrada. Na fachada oposta, outra abertura do piso ao teto abre a área social para o jardim. 
        No interior, uma rica materialidade de ônix e raras madeiras tropicais, combinam-se com a estrutura em aço, vezes revestida por aço inóx, e os panos de vidro. Mies desenhou todo o mobiliário da casa e escolheu o local preciso para casa peça. 








Farnsworth

        A Casa Farnsworth é uma sofisticada caixa de vidro que possui como maior decoração a natureza em seu exterior. O volume envidraçado toma partido da integração com a paisagem, indo ao encontro do conceito miesiano de uma forte relação entre a casa e a natureza.
        A casa se sustenta em oito pilares de aço de perfil I que suportam as estruturas do corpo e do piso. Entre os pilares aparecem grande panos de vidros de piso a teto, rodeando toda a casa, abrindo os ambientes à paisagem circundante. São eles que trazem a beleza da natureza para dentro da casa.
        Segundo Mies: “A natureza, também, deve viver sua própria vida. Nós devemos estar conscientes em não rompê-la com a cor das nossas casas ou equipamentos internos. Ao contrário, nós deveríamos atentar a trazer natureza, casas e seres humanos a uma maior unidade.”
        Devido às periódicas cheias do rio Fox, Mies propõe que a casa seja sutilmente implantada no terreno, elevando-a 1 metro e 60 centímetros do chão. Desse modo, apenas os pilares de aço tocam o solo e a paisagem pode atravessar a residência. Com exceção das paredes internas que delimitam os ambientes e conformam o banheiro, a casa é completamente aberta e simples.






Laffayette Park

        Situado no extremo leste do centro de Detroit, o Lafayette Park constitui a maior coleção de edifícios do mundo projetada por Mies van der Rohe. O complexo de 78 acres foi concluído em 1959, logo após o Crown Hall e o Seagram Building. Não é tão conhecido como vários projetos de Mies daquela década, no entanto, e muitos críticos argumentam que o projeto merece maior reconhecimento. Um dos primeiros exemplos de renovação urbana, é um testemunho do design do empreendimento que permanece um bairro vibrante mais de cinquenta anos após a sua construção.
        Lafayette Park foi o esforço colaborativo de Mies van der Rohe, do paisagista Alfred Caldwell e do planejador Ludwig Hilberseimer. Herb Greenwald, o desenvolvedor, trabalhou com Mies anteriormente nos apartamentos em 860-880 Lake Shore Drive. A arquitetura é decididamente miesiana, com pronunciados elementos estruturais e painéis de vidro laminado, mas a austeridade característica é temperada pela configuração dos edifícios e da paisagem circundante.




Neue National Galerie

        A obra conforma uma nova disposição de museu, cuja configuração de projeto se viu posta à prova com as primeiras exposições. Para a época, representou um avanço importante ter uma planta livre para expor obras de arte na superfície quase ao ar livre e, simultaneamente, abaixo do solo, e de forma hermética. Isso representou ter flexibilidade em quais tipos de obras deveriam ser expostas no museu, dando ainda mais liberdade e criando diversas opções curatoriais.
        O alinhamento do projeto do edifício é simples: existe uma exaltação da planta livre e uma premeditada instrução para diferenciar entre o aberto e o fechado; o escuro e o iluminado. Mies projeta um subsolo de pedra de 105 x 110 metros que se levanta do solo e que, em sua pura geometria, somente é interrompido por acessos e circulações. Serve como plataforma de assentamento do volume claro, quase flutuante e também aberto, que abriga a coleção permanente no seu interior. Sobre isso, posiciona-se o outro volume da galeria, uma cobertura escura, apoiada nas famosas colunas cruciformes de Mies van der Rohe. Aqui fecha-se a área de exposições temporárias com paredes de vidro de 2.500 m² recuados da borda da cobertura, que parece flutuar à noite com seus 8,40 metros de altura.
        Dentro do volume fechado estão as exposições permanentes, a coleção gráfica, os escritórios administrativos e o café, tudo construído em concreto armado. No entanto, apesar do material escolhido para essa área, a iluminação natural é resultado de uma estratégia de projeto sensível: as salas de exposição situadas a oeste abrem-se para um jardim de esculturas onde Mies deixa espaço para vegetação e um espelho d'água.