A Arquitetura Paulista de Vilanova Artigas
O Arquiteto
Obras
Casa Rio Branco Paranhos
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Fonte: Irigoyen (2002) |
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Pavimento Térreo | Fonte: Cruz (2010) |
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Primeiro Pavimento | Fonte: Cruz (2010) |
Rodoviária de Londrina
A fim de marcar o enriquecimento e a modernização da cidade na década de 1940, o então Prefeito Hugo Cabral e o Secretário de Obras e Viação Rubens Cascaldi encomendaram a Artigas a nova rodoviária que seria construída na Rua Sergipe. As obras foram iniciadas em 1949, mas a falta de mão de obra especializada em
concreto armado atrasou a execução. A Rodoviária foi inaugurada em 1952, ano em
que Carlos Cascaldi, precedentemente aluno de Artigas, começou a trabalhar com ele.
A Praça Rocha Pombo, integrada ao projeto, liga o edifício da Rodoviária com a Estação
Ferroviária, criando um espaço de estar, presente em vários outros projetos realizados nessa fase,
como o Edifício Louveira em São Paulo (1946).
A referência às obras de Le Corbusier e à Escola Carioca é evidente no projeto da Rodoviária.
Observam-se a definição de volumes geométricos claros, o jogos de rampas e volumes desencontrados, a inclinação das lajes, a estrutura independente de concreto, a utilização do vidro. O
avanço da tecnologia do concreto fez o arquiteto tomar algumas decisões consideradas inovadoras na época, como os pilares inclinados que apoiam a última abóboda de concreto.
Suas curvas marcam as esperas dos ônibus, no grande pavilhão de vidro se encontra
toda a funcionalidade de um terminal rodoviário.
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Marquise e Pilares em V | Fonte: Samantha Palma (2016) |
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Diferença de Níveis | Fonte: Samantha Palma (2016) |
O bloco de forma trapezoidal, articulado em dois níveis, abrigava a área administrativa da rodoviária, o restaurante e as lojas. Esse bloco estava envolto por caixilhos metálicos e fechado com vidro. O edifício foi implantado longitudinalmente ao eixo Leste-Oeste, assim a fachada Sul, voltada para a Rua Sergipe, estava inteiramente coberta por grandes planos de vidro, enquanto a fachada Norte, voltada para a Praça Rocha Pombo, recebeu o tratamento de brises, com a intenção de manter a passagem de ar e iluminação natural no edifício. Este conceito foi muito utilizado no modernismo brasileiro, principalmente pela Escola Carioca. Na fachada Leste, encontram-se elementos vazados.
O acesso desse bloco pode ser realizado pela Rua Sergipe, por uma marquise sustentada por pilares em “V”. A diferença de níveis entre essa entrada e a área da plataforma, é vencida por uma rampa e uma escadaria. No interior do edifício observam-se outras características típicas do modernismo, como a utilização de pastilhas coloridas, a estrutura do bloco descolada da fachada, as rampas de acesso aos demais pavimentos, a transparência e funcionalidade.
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Plantas | Fonte: Ana Maria Barbosa Lemos (2007) |
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Corte Longitudinal | Fonte: Ana Maria Barbosa Lemos (2007) |
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Fonte: Fernando Stankuns |
A Segunda Residência do Arquiteto
O acesso ao edifício é delimitado pelos muros da garagem a 45º em relação à fachada principal. Sobre eles uma abóboda rebaixada, aberta em ambas as frentes. Entra-se por um portãozinho de ferro entre muretas de alvenaria pintadas de branco que leva a um caminho descoberto rente à garagem. Logo chega-se a um átrio coberto por uma laje plana.
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Fonte: Nelson Kon |
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Fonte: Nelson Kon |
O edifício torna-se apenas uma
escada que leva da sala de estar ao escritório elevado e uma cobertura
inclinada que protege ambos e dá a altura suficiente para o segundo. Entre a
sala, o escritório, a cobertura e a escada forma-se o espaço da varanda. Mas
isso não é, senão, a metade da superfície retangular de 27 metros de extensão e
6 metros de largura. A metade esquerda do edifício abriga os três
dormitórios, a cozinha, a despensa e o banheiro comum.
Ao contrário da disposição
simétrica entre áreas sociais e áreas íntimas, a cobertura é assimétrica: o
lado maior, que avança sobre o escritório, parte da parede que separa a cozinha
do banheiro, onde se cria a calha transversal. Possui 7,5 metros a mais em
planta que a segunda laje inclinada, medida que representa a extensão da escada
ao escritório. Porém, ainda que assimétrica em extensão, os dois lados da
cobertura não são de todo assimétricos: a parede que separa a cozinha do
banheiro marca a metade da área interna do edifício, a partir do limite da sala
de estar.
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Fonte: Nelson Kon |
Todas as paredes do edifício são
de tijolo maciço, nunca deixados na cor natural, em geral pintados sem reboco
interna e externamente, com apenas uma exceção: a extremidade do lado esquerdo,
onde está o dormitório maior, rebocado externamente e pintado de branco, um
volume maciço e cego, a contraposição simétrica ao escritório elevado. As
paredes utilizam três cores: branco, vermelho e azul, de tons fechados. Branco,
nos muros da garagem, muretas da entrada, lareira, e paredes dos dormitórios;
vermelho, nas paredes dos lados maiores do edifício, na base da escada, além de
aparecer no piso; e azul, nos seis pilares da varanda, nas faces que dividem a
área social da área íntima, e na face externa de fundos dos quartos, onde estão
as três janelas.
Faculdade de Arquitetura e Urbanismo - FAU/USP
O edifício da FAU/USP é o mais representativo dos ideais sociais almejados durante
toda a carreira de Vilanova Artigas. Não é um edifício entendido apenas como forma, mas a
materialização do debate social; na época da sua construção, gerou também um debate sobre a
industrialização nacional, sobre o uso do concreto armado e sobre um espaço novo para a reformulação do curso de Arquitetura e Urbanismo, criado em São Paulo em 1948 com a separação
da escola Politécnica, que formava engenheiros-arquitetos. O curso foi ministrado durante seus
anos iniciais no bairro Higienópolis, no casarão em estilo Art Nouveau doado à USP pela família Penteado. O terreno para a construção da cidade universitária foi adquirido em 1941, porém a
construção dos edifícios começou apenas na década de 1960, quando foi implementado o plano
de ação Carvalho Pinto. Nesse momento o curso de Arquitetura e Urbanismo estava passando
por uma reformulação.
O primeiro projeto da FAU foi concebido por Artigas em 1961. Em 1964 foi elaborado um
projeto denominado Corredor das Humanas, com o objetivo de organizar os edifícios do FFLCH,
FAU, Geologia e IME. Todos os edifícios deveriam apresentar um partido arquitetônico parecido
e serem interligados por grandes vãos, criando um único caminho que os atravessava e ligava
todos. O edifício atual foi projetado por Artigas e Cascaldi; as obras tiveram início em 1966 e
foram concluídas em 1969. No dia da inauguração do edifício foi preparada uma exposição sobre
Oscar Niemeyer.
E pensei que aquilo tinha que ser um prédio que não tivesse a menor concessão a nenhum barroquismo; que tivesse insinuações de uma extrema finura, para dizer que partia de um bloco inerme (...). Os castelos tinham portas altas e estreitas, porque eram feitos apenas para poucas pessoas muito importantes, e na FAU não tem portas, para que não houvesse descriminação de quem entrasse ali. (Artigas, 1983: Vídeo)
Artigas pensava os espaços sempre como sendo públicos: mesmo nas residências usava o concreto e as rampas, considerados elementos que estão presentes nos projetos urbanos; defendia a ideia de que a vida devesse ser sempre coletiva, e que o arquiteto deveria agir em prol do social. Por meio do brutalismo, ele materializou essa possibilidade: a mão do trabalhador podia aparecer e ser protagonista na concepção estética de seus projetos. O conceito principal do projeto da FAU era a de uma escola aberta, sem portas, que não pudesse restringir o acesso de pessoas e ideias. Um espaço novo, para dar ênfase à reformulação do curso: um edifício que por si só daria aulas de humanismo e cidadania.
Analisou como essa obra se comportaria na paisagem, como o edifício “sentaria” no chão: um bloco de concreto visto de longe como uma fortaleza, sustentado por finos pilares. De certa forma, relembrando a referência de Artigas em sua primeira fase, nos lembramos da preocupação de Wright em relação à paisagem. Seu pensamento era que a obra pudesse ser admirada por dentro, e como a forma seria decorrente das escolhas estruturais. Na FAU destaca-se a integridade da circulação, com as rampas que fazem a continuação da rua; não há ruptura entre um espaço e outro, mesmo no sentido vertical.
O vão central, em volta do qual se organizam as salas de aula, os estúdios, a biblioteca e os demais ambientes, é visto como uma praça central fechada, como um espaço de convívio, que se torna também um espaço de reuniões e manifestações. A cobertura mantém a ideia de espaço continuo, com a iluminação natural voltada para vários ambientes. Isto constituía na época uma inovação tecnológica, que foi adotada por vários arquitetos; esse pioneirismo, todavia, trouxe consequências, pois logo depois da inauguração começaram as infiltrações.
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Plantas |
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Plantas |
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Corte |
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Fachada Norte em 1976 | Fonte: Hugo Segawa |
Ao subir os níveis pela rampa é possível chegar a ambientes distintos. No primeiro nível chega-se a um espaço que reúne exposições, cantina e serviços. Subindo mais um lance de rampa, chega-se ao nível da biblioteca. Esta foi pensada como um volume à parte dos demais, articulada em um bloco independente voltado para a praça central. Subindo mais um nível, alcançam-se as áreas livres que têm como teto a cobertura translúcida. Neste nível há cinco estúdios em que as paredes de divisão são baixas para que haja comunicação e fruição de sons em todo o ambiente. Junto à face Norte, encontram-se as salas de aula, mais reservadas.
Um dos estúdios | Fonte: Samantha Palma (2016) |
O edifício foi tombado pelo CONDEPHAAT em 21/07/1982, Resolução SC – 26, de 23-07- 1981, inscrição nº 198, p. 48, após um chamado aberto em 1981 pelo arquiteto Ruy Ohtake.
Rodoviária de Jaú
As arestas que dividem as
faces ao meio a partir de um metro e vinte centímetros do piso também se
alinham ao nível inferior da laje, de tal modo que os dois planos que
configuram a porção inferior dos componentes curvos partem desde o nível do
piso unidos por um ângulo reto e chegam ao nível inferior da laje alinhados por
um ângulo raso, ou seja, transformam-se em um só segmento de reta de cinquenta
centímetros.
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Fonte: Fabricia Zulin |
A face superior dos componentes curvos derivados dos pilares quadrados alinha-se em concordância ao nível superior da laje. Apresentam nesse ponto de contato também cinquenta centímetros, que vão diminuindo ao longo da curva descendente através das duas arestas que configuram a face até se encontrarem num ponto ao centro do quadrado original. Dito ao contrário: do ponto central do pilar, a dois metros de altura do piso, partem oito arestas curvas que configuram as quatro faces superiores dos componentes.
O edifício aproveita o
acentuado declive topográfico. Dele surgem os cinco níveis principais
construídos à meia altura entre eles e conectados por rampas. As três fileiras
de seis pilares criam dois vazios transversais no edifício. Um deles dá lugar
as rampas que conectam os pavimentos. O outro é por onde entram os ônibus e
lugar dos embarques e desembarques.
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Fonte: Ana Carolina Gleria |
Os acessos principais ao
edifício estão por seus dois lados opostos mais extensos, através das vias que
passam pela cota mais alta e pela mais baixa do terreno. Outros dois acessos
secundários estão nas laterais do edifício, paralelos à via de acesso dos
ônibus, através de uma rampa que surge do passeio público e leva a um nível
intermediário do edifício.
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Fonte: Renata Mendes |
Assim como várias obras
modernas brasileiras, a Rodoviária de Jaú é apenas uma coberta e um
conjunto de pilares.